Uma visão sobre a história dos Observatórios de Aves

foto de Luiza Figueira

Luiza Figueira

08/09/2021

Parte 2

Observatórios de Aves existem há mais de 100 anos, tendo surgido primeiramente no norte da Europa. O primeiro Observatório de Aves, o Vogelwart Rossiten, foi criado em 1901, em Rossiten, atual território alemão. Seu fundador foi o ornitólogo alemão Johannes Thienemann, que ao visitar a península de Rossiten, em 1896, notou ser este um local com intenso trânsito de aves migratórias. O Observatório de Aves de Rossiten ficou ativo até 1943, e durante seus 42 anos de vida teve por objetivo realizar um monitoramento constante da avifauna local para a pesquisa ornitológica em diversos temas, como migração, comportamento, demografia, fisiologia, reprodução, dentre outros. Além da pesquisa, seu propósito inicial também foi trabalhar com a comunidade local, promovendo educação (divulgação científica) e auxiliando com medidas de conservação das espécies de aves.

Mas o título de “Observatório de Aves” para esse tipo de organização antecede Rossiten, tendo sido cunhado por Heinrich Gatke. Gatke foi um ornitólogo e artista alemão que viveu e estudou a avifauna na ilha de Helgoland (pequeno arquipélago alemão situado no mar do Norte) entre 1841 e 1891, quando publicou a obra literária Die Vogelwart Helgoland, que significa “O Observatório de Aves de Helgoland”. O monitoramento de aves em Helgoland, no entanto, só se formalizou como um Observatório de Aves em 1910, com a sistematização da coleta de dados e a captura de aves.

Desde então surgiram centenas de Observatórios de Aves no mundo. Os primeiros a se formalizarem nas Américas foram os Long Point Bird Observatory (Ontário,Canadá) e o Powdermill Nature Reserve - Avian Research Center (Pennsylvania, EUA), na década de 1960. Hoje são centenas de organizações focadas no monitoramento de aves espalhadas pelo mundo, compondo uma grande diversidade de estruturas e modelos entre tais organizações.

Mapa mostrando localização de observatórios de aves

Mapa mundi com a localização de alguns dos observatórios de aves conhecidos

No Brasil, a primeira organização a ser designada como um “Observatório de Aves” foi o Observatório de Aves do Instituto Butantan (OA-IBu), em São Paulo, SP. Fundado em 2014, o OA-IBu é coordenado pelo Museu Biológico do Instituto Butantan e sua proposta é fazer o monitoramento de aves na área florestal do Instituto Butantã, que está inserida numa matriz urbana. Aproveitando a grande densidade populacional da cidade de São Paulo, a atuação do OA-IBu também está voltada para fomentar a conexão entre sociedade e aves através de atividades de passarinhadas, rodas de conversas e palestras abertas.

O segundo do qual temos conhecimento é o Observatório de Aves da PUC-RS, inaugurado em 2016. Associado ao laboratório e ao museu de ornitologia da Universidade Pontifícia do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, o Observatório surgiu como um projeto de extensão. Os objetivos do OA-PUCRS são abraçar os projetos de monitoramento da avifauna dos estudantes e pesquisadores do lab, oferecendo uma estrutura padronizada e de longo prazo, e promover atividades de extensão da universidade com a comunidade em geral, promovendo comunicação e atividades de educação ambiental.

O Observatório de Aves da Mantiqueira (OAMa) iniciou as atividades de monitoramento da avifauna na Serra da Mantiqueira entre 2018 e 2019. Seguindo um formato de organização independente e sem fins lucrativos (ONG), o OAMa foi formado com o objetivo de ser uma instituição de pesquisa alternativa aos laboratórios de pesquisa de universidades, propiciando maior liberdade e flexibilidade de atividades, cronograma e prioridades. Nesse formato, podemos atuar em apoio às universidades e demais centros de pesquisa, colaborando com nossos dados, treinamentos e atividades de divulgação científica. A proposta do OAMa é fortalecer a ponte entre ciência, sociedade e conservação.

Pesquisadora apresentando informações sobre aves para 3 crianças

Ornitóloga Raquel Justo durante atividade de divulgação científica do OAMa com a sociedade

Outros Observatórios iniciados nesse meio tempo foram o da Fazenda Bananal, em Paraty, RJ, e o da RPPN Veracel, em Porto Seguro, BA.

O projeto Aves de Noronha, com início em 2018, tem como principal objetivo redirecionar o olhar de moradores e turistas para a rica avifauna da ilha de Fernando de Noronha (CE), através de Pesquisa, Educação, Ciência Cidadã e Turismo Sustentável, melhorando o estado de conservação e fortalecendo a economia local. Apesar de não carregar o termo no nome, os objetivos, ações e métodos do projeto refletem a essência dos Observatórios de Aves. Além de sua forte pegada na comunicação com a sociedade e atividades relacionadas à educação e turismo sustentáveis, o Aves de Noronha realiza também o monitoramento das espécies ameaçadas de extinção e das endêmicas do arquipélago.

O Projeto Bigodinho também se descobriu recentemente como um Observatório de Aves por realizar monitoramento e pesquisa de longo prazo bem como extensão e atividades com a sociedade. O projeto de estudo e monitoramento de longo-prazo com foco em uma única espécie, o bigodinho (Sporophila lineola) é coordenado pelo Dr. Leonardo Lopes (Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal) e pelo Dr. Filipe Cunha (Nederlands Instituut voor Ecologie e Wageningen University & Research, Holanda), numa parceria internacional.

Esses não são, certamente, os únicos Observatórios de Aves do Brasil. São apenas os que tivemos o privilégio de conhecer e que participam da REDE. Muitos outros projetos que não se denominam Observatórios de Aves, assim como o Aves de Noronha e o Projeto Bigodinho, existem pelo país. Realizam o monitoramento da avifauna de forma padronizada já há muitos anos e também se ocupam de atividades que visam à construção de pontes com a sociedade. Trata-se de um grupo em expansão, tanto por agregar projetos já existentes que se afinam com os Observatórios de Aves como pela criação de novas organizações que seguem esse modelo e objetivos.

Se você participa de um projeto que, a seu ver, condiz com um Observatório de Aves ou está envolvido no desenvolvimento de uma nova organização desse tipo, entre em contato com a gente pelo contato@oama.eco.br.